Atmosferas
“Atmosferas” é o livro que reproduz uma conferência proferida em Junho de 2003 por Peter Zumthor no Festival de Literatura e Música da Alemanha, realizado em um local cuidadosamente escolhido para este fim, o palácio renascentista Wendlinghausen, nas proximidades do rio Weser. O conferencista indagou sobre a extensão da graça e o palácio é um excelente exemplo dos princípios da arquitetura de seu tempo: a utilidade e a conveniência, a permanência e a beleza.
Da arquitetura de atmosferas para os sentidos, o percurso das experiências.
O professor e renomado arquiteto suíço Peter Zumthor compartilha com os leitores de Atmosferas o que considera os nove principais conceitos para o projeto da própria atmosfera. Dos nove, cinco estão diretamente relacionados aos sentidos:
Corpo da arquitetura.
Compatibilidade material.
Som do espaço.
Temperatura do espaço e
A luz nas coisas.
Os outros quatro estão relacionados a outras questões de projeto:
Objetos ao redor.
Compostura e sedução.
Tensões entre interior e exterior, e
Níveis de intimidade.
Ligado ao sentido do tato, o corpo da arquitetura é “como uma massa corporal, uma membrana, um tecido, um tipo de cobertor, pano, veludo, seda que a circunda”. (Zumthor, 2006, p. 21-23). Para Zumthor, o corpo da arquitetura deve ser entendido como a sua própria anatomia.
A compatibilidade material diz respeito à infinidade de recursos que um só material possibilita. Ao pensar numa pedra, poderíamos cerrá-la, moê-la, furá-la, dividi-la ou poli-la. Cada vez, será algo diferente. Se olharmos contra a luz, a pedra parecerá diferente. Há milhões de possibilidades em um único material. Mas, juntos, os materiais irradiam e criam algo originalmente novo, existindo para eles uma proximidade crítica.
Mesmo em total silêncio e vazio, Zumthor ensina que cada espaço possui um som próprio. A isso chama som do espaço. O arquiteto explica que os sons dos espaços são como os formatos e superfícies dos materiais, dispersos ou aplicados. Para ele, “interiores são como grandes instrumentos musicais, colecionando sons, amplificando-os, transmitindo-os para outro lugar.” Zumthor constrói a partir do silencio.
A temperatura do espaço não se refere apenas ao conforto térmico, mas à temperatura aparente dos materiais utilizados. Antes mesmo de tocarmos um objeto, temos uma ideia sobre a sensação que o toque nos produzirá. De modo análogo, ante as diferentes texturas, conseguimos imaginar se serão ásperas ou macias. Zumthor se preocupa com o que denomina “afinação térmica” entre os materiais, como as notas musicais em uma orquestra, em que o arquiteto é regente.
Para explicar a luz nas coisas, Zumthor observa onde e como a luz incide, onde estão as sombras ou se as superfícies são foscas. Explica que o ouro, por exemplo, parece ter uma capacidade de absorver até as menores quantidades de luz e de refleti-las na escuridão. Chama atenção para o “comportamento” dos diferentes materiais perante a luz. Peter Zumthor planeja o prédio como uma massa pura de sombras, na qual usa a luz como se esvaziasse a escuridão.
Katiane Marry
Arquiteta e Urbanista