A função social do arquiteto
Qual poder exerce a Beleza sobre a Ordem da Vida? A quem compete a criação da beleza? Quão democrático tem sido o acesso ao Belo? Seja a resposta conhecida, é preciso reafirmar! É preciso lembrar com energia que a Arquitetura é uma realidade social. Um direito cidadão, legitimado pela democracia.
Para exercer Arquitetura é preciso boa dose de generosidade. Num ato abnegado, abandonar-se à criação, não pelo próprio deleite e delírio egoístas, cuja busca aparta-se dos problemas das tecnologias, das necessidades das populações e da escassez, cada vez mais premente, dos recursos ambientais. Antes, deve o arquiteto ser capaz de dignificar o usuário e reconhecê-lo merecedor da profunda consciência profissional que deverá cultivar.
O arquiteto precisa saber ocupar-se das miudezas domésticas e também entender que o ofício da Arquitetura está a serviço da Arte, que abrangendo a Escala Humana, que é colossal e íntima num só tempo. Deve perceber que a acessibilidade compõe a cadeira e a cidade. Necessita entender que economia, segurança e conforto são fatores de saúde e de felicidade; fundamentais como o direito à Vida. Apreendendo que o legítimo espírito arquitetônico é investigativo e permanentemente inconformado, deverá compreender que não existe um conhecimento a priori, existe uma busca a priori.
Ao profissional da Arquitetura cabe propor espaços benfazejos a todas as classes sociais. Ambientes que preservem os cidadãos das consequências de soluções impensadas, do desaforo da ausência de detalhes e do acinte de quaisquer propostas técnicas carentes de pesquisa. Pois tendo como principal insumo a criatividade, a Arquitetura prescinde dos volumosos orçamentos para revelar o engenho dos nossos tempos.
Mas, ainda que sobre as asas da Arquitetura alcemos voos sem fronteiras, materializados em criações internacionais, cabe-nos pousar demoradamente sobre as provocações tipicamente brasileiras. Cogitando em nossos traços as convulsões urbanas tão próprias às cidades sul-americanas. Buscando satisfazendo às exigências estéticas e técnicas da nossa gente, cujo imaginário social urbano compartilhamos.
Por imperativos econômicos, não abandonemos os mais caros anseios que nos honra trilhar a senda percorrida pelo Mestre Artigas. Convertamo-nos, pois, em artífices sustentáveis! Façamo-nos primeiro suscetíveis a toda beleza o quanto possamos promover. Sejamos canais para a apropriação dos bens Arquitetônicos, coletivos por natureza. Mas, lembremos a todo o momento que sem entusiasmo é impossível ser arquiteto. E aos que não creem na pujança da profissão, desafiemos a desvalorização da contribuição nacional com a ousadia de uma reposta original, que significando uma volta à origem, reconecte ao prestígio a produção brasileira.
Katiane Marry Barbosa.
Arquiteta e Urbanista